O que esperar de uma entrevista internacional?
Entenda como funcionam as primeiras etapas de um processo seletivo na Europa e prepare-se para responder (e perguntar) com mais confiança.
Se você tem dúvidas se os processos seletivos aqui são diferentes dos do Brasil, a resposta é: sim e não. No geral, as etapas costumam ser parecidas, mas há diferenças sutis na forma como as entrevistas são conduzidas, nas expectativas e até na ordem das fases, que muitas vezes varia de empresa para empresa.
Se você está se candidatando a uma vaga na Holanda (ou em outra empresa europeia), entender essas nuances pode te ajudar a se preparar melhor e evitar surpresas no meio do caminho.
Etapas comuns de um processo seletivo
1. Phone Screen ou Video Interview (com o recrutador)
Nem toda empresa começa com uma ligação por telefone. Muitas já vão direto para o vídeo, especialmente em processos internacionais. Essa primeira conversa normalmente é com alguém de recrutamento e tem um foco claro: entender se o seu perfil se encaixa na vaga.
Dificilmente caem perguntas técnicas pesadas, mas o recrutador pode perguntar sobre projetos importantes da sua carreira, seu momento atual e os desafios que tem enfrentado.
É também quando eles vão querer saber:
Sua situação de visto ou se precisa de patrocínio
Sua disponibilidade para mudança
Suas expectativas salariais
Como você se comunica em inglês
A empresa provavelmente vai aproveitar esse momento para apresentar a vaga, falar um pouco sobre a cultura, o time e os próximos passos. É a hora de demonstrar interesse e fazer perguntas relevantes. Evite chegar sem nem saber o que a empresa faz.
2. Entrevista com o gestor ou com o time técnico
Essa etapa é mais aprofundada. A ideia é confirmar seu nível de senioridade e entender sua forma de pensar, tanto no aspecto técnico quanto no comportamental. Pode ser com seu futuro gestor direto ou com membros da equipe.
Espere perguntas como:
Decisões técnicas que você já tomou
Como você resolve problemas
Como lida com pressão ou falhas em projetos
Se for de outra área (produto, recrutamento, marketing), essa etapa também vai explorar sua lógica em decisões estratégicas e sua forma de trabalhar no dia a dia.
Dica: você pode usar a matriz STAR ou CAR para estruturar suas respostas. Mas, se isso te deixa nervoso, tudo bem. Foque em responder de forma clara: explique o contexto, o desafio e o que você fez para resolver. Simples assim.
3. Home Assignment ou Case Study
Aqui entra o desafio prático, que varia bastante conforme a área:
Produto, Marketing ou Negócios: exercício estratégico, como montar uma apresentação, análise SWOT ou proposta de solução
Desenvolvimento, Engenharia ou Data: construção de POC, MVP, API ou resolução de problemas de lógica/modelagem
Design: estudo de caso com foco em design, usabilidade e criatividade
Recrutamento ou Sourcing: simulações de sourcing (às vezes ao vivo) e análise de estratégias para contratação
Geralmente, você tem alguns dias para entregar, mas o tempo pode variar. Sempre pergunte o prazo, confirme o escopo e tire dúvidas durante o processo.
4. Entrevistas técnicas ou painéis (para perfis técnicos)
Essa etapa é quase certa para perfis de TI. Pode incluir:
Uma entrevista técnica para complementar o Home Assignment e entender suas decisões
ouLive coding (com plataformas como CoderPad, HackerRank etc.)
e/ouSystem Design Interviews, especialmente para cargos mais seniores
O objetivo é avaliar sua lógica, clareza ao explicar soluções e experiência prática com decisões técnicas.
Como é o processo em startups e big techs?
Empresas mais tradicionais seguem a ordem clássica: introdução com recrutador, conversa com gestor, desafio prático e entrevistas finais.
Já big techs e startups podem inverter esse fluxo. Muitas vezes, o desafio técnico vem logo no início. Só depois, se você for bem, vêm as entrevistas com o gestor e o time.
Exemplo de processos em big techs:
Amazon: Teste técnico (código) + questionário de estilo de trabalho → Entrevista por vídeo com recrutador → Loop de entrevistas com líderes e time.
Booking: Vídeo com recrutador → Live Coding → System Design + LeetCode → Entrevista com gestor → Fit cultural com o time.
Exemplo de Startups:
Fareharbor: Vídeo com recrutador → Live Coding 1 → Live Coding 2 + System Design → Entrevista com gestor.
PicNic: Chamada com recrutador → Teste técnico → Entrevista técnica e comportamental com o time.
Quanto tempo duram os processos?
Startups: em média, 2 a 4 semanas. Costumam ser mais rápidos, mas ainda exigentes tecnicamente e com forte foco cultural.
Empresas tradicionais: entre 1 e 2 meses. O processo tende a ser mais cauteloso.
Big Techs: podem levar de 2 a 5 meses, com pausas entre as etapas. Por exemplo: faz o coding test, espera duas semanas, depois vem o system design, e assim por diante.
O que esperar na primeira conversa com o recrutador?
Muita gente subestima essa etapa achando que é só uma conversa informal. Mas a realidade é que essa conversa define se você segue ou não no processo, principalmente em empresas com alto volume de candidatos.
Mesmo quando a pessoa do outro lado é simpática (o que é ótimo), ela está ali para avaliar se o seu perfil faz sentido para a vaga. E, ao mesmo tempo, esse é o seu momento de avaliar se a vaga faz sentido para você também.
Aqui estão as perguntas que mais aparecem nessa fase e o que elas querem descobrir:
"Tell me about yourself"
Clássica. A ideia não é ouvir sua vida inteira desde o estágio de 2009, mas entender seu momento atual e se o que você já fez se conecta com o que a empresa está buscando. O ideal é fazer um resumo rápido da sua trajetória, destacando os pontos mais relevantes para a vaga (foque em hard skills, entregas e resultados).
"Why are you looking for a new opportunity?"
Essa pergunta busca entender o seu motivo. Você quer crescer? Está insatisfeito com o que faz hoje? Quer sair do Brasil? Quer mudar de área? Evite falar mal da empresa atual ou demonstrar que está aceitando qualquer coisa. Foque no que você busca.
"Do you need a visa or are you authorised to work here?"
Pergunta comum em vagas internacionais. Ajuda o recrutador a entender a logística da sua contratação. Se a empresa não contrata pessoas de fora, isso pode encerrar o processo ali mesmo. Isso não é pessoal, pode ser uma limitação de orçamento, política interna ou urgência da vaga. Melhor saber logo no início do que investir tempo à toa.
Dica: se você precisa de visto, pergunte já no primeiro contato se a empresa está aberta a sponsorship. Isso poupa tempo para ambos os lados.
"What is your salary expectation?"
Nem sempre essa pergunta aparece no início, mas se aparecer, esteja preparado. Pode ser o valor anual/mensal, pode ser uma faixa, pode ser algo como "It depends on the package, I'd like to hear the company's budget first", desde que não seja um "I don't know". Pesquise antes. Se estiver em dúvida, diga que está aberto, mas mencione uma base para alinhar expectativas.
"Are you participating in other recruitment processes?"
A intenção não é bisbilhotar. É entender seu momento na busca de emprego. Isso ajuda o recrutador a ajustar o timing do processo e até acelerar decisões, se necessário.
"What’s your availability to start?"
Se tudo der certo, quando você pode começar? Pergunta simples, mas essencial, principalmente se o time estiver com urgência ou se houver mudança de país envolvida.
E mais algumas que podem aparecer:
Have you ever worked with international teams?
What attracted you to the job or the company?
E… “How do you communicate in English?”
Na maioria das vezes, essa pergunta não vem de forma direta. O recrutador já estará avaliando seu nível de inglês ao longo da própria conversa, vocabulário e capacidade de manter um diálogo fluido já dizem muito. Ou seja, não é comum que alguém pergunte "qual o seu nível de inglês?" como no Brasil.
Aqui, eles preferem observar na prática. Por isso, mais importante do que se preocupar com certificados é conseguir se comunicar bem durante a entrevista. E se comunicar bem, não significa não cometer erros, ser perfeito e não ter sotaque.
O que realmente conta é conseguir expressar suas ideias com clareza, entender e responder com segurança, mesmo que com algumas pausas ou erros no meio do caminho.
Se algo fugir do seu vocabulário, vale pedir para repetirem, confirmar se entendeu corretamente ou reformular a resposta com o que você sabe. Mostra jogo de cintura, que é muito mais valorizado do que decorar uma frase perfeita. A fluência está mais na troca do que na perfeição.
Essa primeira entrevista não é para te colocar contra a parede, mas para entender se faz sentido continuar. E, o mais importante: Pergunte sobre o time, o desafio, o dia a dia. Mostre que você quer saber onde está pisando também.
No próximo post, posso trazer exemplos práticos de como responder a essas perguntas.
E ai, qual dessas perguntas você menos gosta de responder? 😅